domingo, 16 de maio de 2010

Bate-papo Spaceblooks 2: Fantástico na Internet



2010.05150736P6 — 18.208 D.V.

“Ana, será que você deixaria eu concluir meu pensamento.”
[Fábio Fernandes]



Deu-se na noite da última quinta-feira, 13/05, na livraria Blooks a Spaceblooks II, uma mesa-redonda informal, ou bate-papo temático, sobre literatura fantástica em mídia virtual, com a participação dos escritores Fábio Fernandes, Ana Cristina Rodrigues e Saint-Clair Stockler. A iniciativa Spaceblooks consiste num ciclo de três mesas-redondas semanais, sempre às quintas-feiras, idealizadas por Octavio Aragão e Toínho Castro, os dois curadores responsáveis pela organização do evento.


Toínho Castro e Octavio Aragão — Curadores da Spaceblooks

 
Infelizmente, não pude estar presente na Spaceblooks I, onde Bráulio Tavares e outros participantes egrégios dividiram a mesa-redonda para debater e papear — brilhantemente, segundo ouvi falar — sobre science fiction at large.

Para compensar, saindo direto do trabalho, acabei chegando meia hora adiantado para a Spaceblooks II. A livraria Blooks situa-se na galeria do Unibanco Artplex, estabelecimento onde se deu alguns meses atrás o lançamento das célebres tirinhas Os Passarinhos, de Estevão Ribeiro.

Mal cheguei e encontrei os três futuros bate-papeadores: meu amigo Fábio Fernandes, que veio de Sampa especialmente para o evento; minha querida afilhada Ana Cris; e Saint-Clair Stockler. Também presentes antes do início do bate-papo estavam os assíduos Ricardo França e Rafael Lupo, que, segundo soube, já haviam comparecido na Spaceblooks anterior, e também o Bráulio Tavares e o Marcelo Carvalho Couto, um sócio antigo do CLFC-Rio que eu já não via há uns bons quinze anos, desde os tempos do saudoso Grupo de Interesse em Vídeo capitaneado por Sylvio Gonçalves em plena antediluviana década de 1980 no Rio de Janeiro do segundo milênio, onde assistíamos clássicos em preto e branco e séries norte-americanas inéditas em fitas VHS (sugiro aos mais novos uma “googlada” para descobrirem do que se trata). Aliás, ainda lembro das pizzas deliciosas que a mãe do Marcelo nos servia no intervalo entre a exibição de um vídeo e outro. Bons tempos...

Cumpridos os quinze minutos de tolerância regulamentar, a mesa-redonda se iniciou com pontualidade carioca às 19:15h, com nosso mestre de cerimônias Octavio — com seu new look careca — apresentando os três convidados.


O Curador, Saint-Clair Stockler, Fábio Fernandes e Ana Cristina Rodrigues


Ana Cris abriu o bate-papo falando de suas múltiplas atividades nas diversas comunidades virtuais, dentre elas a comu Ficção Científica do Orkut, a oficina literária virtual Fábrica dos Sonhos e seus projetos editoriais que estão migrando da virtualidade para o bom e velho papel impresso, dentre as quais a antologia temática Gastronomia Phantastica.

Ana passou o microfone ao Fábio que, a bem da eficiência, apenas citou que seu currículo constava de seus blogs e de diversos links em outros sítios internéticos, passando então a nos apresentar com a verve que lhe é peculiar um breve histórico do desenvolvimento da literatura fantástica brasileira no âmbito virtual — narrativa ágil que, vez por outra, se entremeou com o fantástico lusófono impresso. Fábio também nos falou um pouco dos contatos recentes que estabeleceu com autores e editores anglo-saxões do gênero e das publicações resultantes desses contatos.

Em seguida, Saint-Clair Stockler falou sobre suas atividades literárias nos âmbitos impresso e virtual, abordando, inclusive, seu processo criativo e sua parceria com o autor paulistano Tibor Moricz, que resultou, dentre outros frutos, nas antologias Imaginários I & II (Draco, 2009) e na Brinquedos Mortais, ainda em fase de elaboração.

Ao longo do bate-papo inicial do trio de autores, chegaram Carlos Eugênio Patati, Cláudia Quevedo Lodi e Max Mallmann, autor do romance histórico recentemente publicado O Centésimo em Roma (Rocco, 2010), indubitavelmente, um dos maiores tours-de-force literários dos últimos tempos.

Encerrado o bate-papo inicial, passamos à interação direta entre escritores e plateia. Muitos dos cerca de trinta presentes participaram ativamente com perguntas, comentários e opiniões que incrementaram o ambiente interativo e informal que a dupla de curadores almejara. Tão informal que Ana não se furtou de interromper a fala de Fábio em seguidas ocasiões. Das primeiras três ou quatro vezes, nosso amigo limitou-se a lançar um olhar enviesado à interlocutora. A partir da vez seguinte, estrilou e, a partir de então, começaram a se estranhar, a ponto de me fazerem lembrar as discussões entre meus pais nos almoços de domingo: assim como Ana e Fábio, meus pais se amam, mas há décadas insistem em que um nunca deixa o outro falar...

Ao longo dessa animada fase de perguntas, respostas & comentários, foram abordadas várias questões interessantes, desde a relevância do romance Os Dias da Peste de Fábio Fernandes no panorama do fantástico lusófono, até as novidades anglo-saxãs nos subgêneros da new space opera e do new weird, passando pela presença brasileira em congressos internacionais de ficção científica e pela sobrevivência e extinção dos dinossauros da FC brasileira.



Plateia participativa do Spaceblooks II

 
Por volta das 21:00h, com o encerramento da parte formal do bate-papo informal, autores e plateia levantaram-se de suas respectivas cadeiras para prosseguir com a interação de pé, enquanto um garçom simpático servia vinho, água e refrigerantes. Aproveitei o ensejo para retomar o papo com o Marcelo Couto, que me contou novidades sobre diversas séries televisivas de FC e correlatas. Enquanto isto, sentado numa mesa à entrada da livraria, Fábio autografava exemplares de Os Dias da Peste para fãs recém-conquistados ao longo da mesa-redonda.

Quando a Blooks e a própria galeria do Artplex já ameaçavam cerrar as portas, partimos em expedição a pé para bebemorar o êxito do evento no Espaço Gourmet, point tradicional da FC&F carioca. Já à saída da Blooks, para gáudio de meu ego autoral, Toínho Castro me confidenciou que teria sido a leitura da coletânea de história alternativa Outros Brasis (Mercuryo, 2006) que o inspirara, em última análise, à criação da iniciativa Spaceblooks.

A maioria dos presentes migrou da livraria para a bebemoração. No entanto, sofremos algumas defecções graves, como as de Patati, do Marcelo, do Ricardo França, que abandonou nossa comitiva no meio do caminhada, guinando rumo à estação Botafogo do Metrô, e do próprio curador Octavio Aragão, que fez forfait, alegando compromissos domésticos inadiáveis relacionados à última mamadeira noturna do filho caçula.

Durante nossa caminhada de cerca de quinze minutos da Blooks até o Espaço Gourmet, sentimo-nos um pouco preocupados, pois nosso amigo Fábio ficara duzentos ou trezentos metros para trás. Tranquilizamo-nos ao perceber que seguia devidamente escoltado por jovens fãs e, de fato, ele acabou chegando em segurança no aconchego de nosso plácido covil.

Uma vez em nosso reduto, sentamo-nos numa mesa que facultava a opção aos rodízios de pizzas e crepes. Postei-me num ponto privilegiado da mesa, com Bráulio, Ana Cris e Toínho à minha frente, Fábio à minha esquerda e Cláudia à minha direita. Eu & Cláudia optamos pela comida a quilo em detrimento dos rodízios, mas não abrimos mão de um bom tinto brasileiro, um Cabernet Sauvignon que, não obstante a longeva safra de 2001, ainda estava nos trinques.



Bráulio Tavares & Ana Cris no Espaço Gourmet


 
Conversamos sobre dezenas de livros, filmes e séries televisivas dentro e, sobretudo, fora do gênero fantástico. Bráulio nos entreteve com a descrição vívida dos roteiros que escreveu para uma série de programas de entrevistas elaborados por uma produtora sediada em Recife.

Já na fase de despedidas, em meio aos elogios extremados que prestei ao romance O Centésimo em Roma, lembrei ao Max que os antigos romanos eram particularmente avessos à prática do sexo oral, tanto do fellatio quanto do cunnilingus, não obstante as nomenclaturas latinas dessas práticas. Afinal, apesar da relativa ousadia e liberalidade dos afrescos eróticos descobertos em Pompeia e Herculano, o fato é que os romanos aceitavam até mesmo a zoofilia com menos ojeriza do que o sexo oral.


Fábio no Espaço Gourmet


 
Bem, acho que por ora é só, mas semana que vem tem mais: na próxima quinta-feira, dia 20 de maio, na Spaceblooks III, Fausto Fawcett, Alexandre Lancaster e eu dividiremos a mesa-redonda para falar de steampunk, onde abordaremos o caso das duas antologias que eram para ser uma e outras questões picantes do subgênero.



Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 15 de maio de 2010 (sábado).



Participantes:
Ana Cristina Rodrigues
Bráulio Tavares
Carlos Eugênio Patati
Cláudia Quevedo Lodi
Estevão Ribeiro
Fábio Fernandes
Gerson Lodi-Ribeiro
Marcelo Carvalho Couto
Max Mallmann
Octavio Aragão
Rafael Lupo Monteiro
Ricardo França
Saint-Clair Stockler
Toinho Castro

Um comentário:

  1. Oi, Gérson.

    Muito legal teu ponto de vista sobre o evento, complementar ao meu relato publicado em http://www.octavioaragao.blogspot.com. Ler os dois é como ver um objeto refletido por dois espelhos diferentes. Em tempo: suas sugestões de correção já foram efetuadas no corpo do post e incluí um link para cá.

    Vamos torer para que a terceira noite seja tão agitada e concorrida como as anteriores.

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