segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Fantasticon 2010


Dia 2.
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“Garfield, corra por sua vida!”
[Ana Cris]


Embarquei hoje num ônibus da Expresso Brasileiro das 06:00h com chegada prevista à capital paulista por volta do meio-dia para participar dos dois últimos dias da Fantasticon 2010. Felizmente, conseguimos chegar no Terminal Tietê às 11:30h, meia hora antes do previsto.

Com relativo tempo livre, abri mão do táxi em prol do metrô, rumando da estação Tietê-Portuguesa até a estação Vila Mariana, distante meras três quadras da biblioteca municipal Viriato Correa, onde se dava a convenção. Como carregava mais de trinta livros no ombro, foram as três quadras mais longas da minha vida.

Prestes a entrar na biblioteca — mesma instituição onde ocorreram várias HorrorCons e RhodanCons na segunda metade da década de 1990 — encontrei o amigo paulistano Marcelo Galvão, que está publicando um conto na antologia Imaginários 3 (Draco, 2010), também lançada na convenção.

Uma vez dentro da biblioteca encontrei meus amigos Flávio “Garfield” Medeiros, Max Mallmann e Ana Cristina Rodrigues. Assim que cumprimentei os dois, rumei para o estande da Moonshadows para desovar os trinta livros que trouxera e conhecer pessoalmente a Michelle, com quem até então só falara via contatos por e-mail, Skype e telefone.

No estande da livraria encontrei o crítico e autor Antônio Luiz da Costa, a quem pedi que confirmasse se sua coletânea Eclipse ao Pôr do Sol (Draco 2010) seria lançada durante o evento. Ainda no estande encontrei com o autor e pesquisador curitibano Carlos Alberto Machado, que também afirmou estar lançando uma antologia organizada por André Carneiro, no qual ele teria um ou mais contos, a Proibido Ler de Gravata. Como já pretendia comprar outros livros, preocupado em ser traído pela memória, fiz uma listinha e entreguei na mão da Michelle para que fossem separados aos poucos, sem estresse.

Comprei ao todo sete livros neste sábado. Além da coletânea do Antônio Luiz e da antologia organizada pelo André Carneiro, adquiri o romance fix-up “mezzo-mainstream” Neon Azul (Draco 2010) do Eric Novello; o romance de FC juvenil Nômade (Ciranda de Letras, 2010) do Carlos Orsi Martinho; a Imaginários 3; o romance de horror Casas de Vampiro (Tarja, 2010) do Flávio Medeiros e o romance zumbifílico anglo-saxão Guerra Mundial Z (Rocco, 2010) de Max Brooks, a única tradução comprada neste sábado. Além disso, recebi do Sílvio um kit de participante em que constava um crachá e o romance de horror Fome (Tarja 2008) do Tibor Moricz.

Emerso da miríade de livros fantásticos da Moonshadows, cumprimentei os amigos Carlos Eugênio Patati, Bráulio Tavares e Silvio Alexandre, o organizador do evento. Bráulio comentou que, embora residamos no Rio, atualmente só nos encontramos em convenções paulistanas. De fato, acho que a última vez que estive com ele foi na Invisibilidades II, patrocinada pelo Instituto Cultural Itaú em 2008.

Bati um papo rápido com o Tibor Moricz e aproveitei para lhe pedir um autógrafo em seu romance Fome, melhor aquisição do kit de participante.

A primeira atividade do programa oficial que assisti foi a já tradicional mesa-redonda dos editores brasileiros de literatura fantástica, “O Mercado Editorial de Literatura Fantástica no Brasil”, com a participação de Douglas Quintas Reis (Devir); Adriano Piazzi (Aleph); Richard Diegues (Tarja); Ednei Procópio (Giz); Daniela Padilha (Difusão Cultural) e Erick Santos (Draco). Essa mesa-redonda não foi diferente de outras que assisti com editores do fantástico nacional, tanto nas falas dos diretores editoriais quanto nas perguntas dos leitores, autores e autores em potencial presentes na plateia. A novidade foi a participação do Erick da Draco, pois a editora tem menos de um ano de existência e essa é a primeira mesa desse tipo em que comparece. Os editores confirmaram para a plateia algo que muitos de nós já sabíamos, até mesmo pelo número recorde de lançamentos nesta convenção: o fantástico nacional está bombando! Erick aproveitou o ensejo para anunciar o futuro lançamento da antologia de história alternativa Dieselpunk, que organizarei para a Draco em 2011.


Mesa-Redonda dos Editores de Literatura Fantástica Brasileira.

Terminada a mesa-redonda, saí do auditório para bater papo com os amigos e dar mais uma olhada nos livros. Encontrei César R.T. Silva, meu ex-sócio dos tempos da editora Ano-Luz, que já não via há tempos. Também tirei algumas fotos, posei para outras e autografei os primeiros exemplares vendidos da antologia Vaporpunk (Draco, 2010) que organizei com o autor português Luís Filipe Silva para a editora. Modéstia do Erick Santos à parte, o livro está lindo, com capa bela e chamativa e acabamento interno primoroso, da primeira à última página. Junto com a Gostosa!, é meu “filho” mais bonito até hoje.

A Vaporpunk inclui oito trabalhos, dentre conto, novela e noveletas: “Fazenda Relógio” [Octavio Aragão]; “Os Oito Nomes do Deus Sem Nome” [Yves Robert]; “Os Primeiros Aztecas na Lua” [Flávio Medeiros]; “Consciência de Ébano” [Gerson Lodi-Ribeiro]; “Unidade em Chamas” [Jorge Candeias]; “A Extinção das Espécies” [Carlos Orsi]; “O Dia da Besta” [Eric Novello]; e “O Sol é que Alegra o Dia...” [João Ventura].

Vaporpunk
Relatos Steampunk publicados sob as ordens de Suas Majestades.

Aproveitei uma relativa folga na programação para dar um pulo no Formule 1 da Paraíso, para fazer meu check-in. Como o hotel dista duas estações de metrô de Vila Mariana, fui num pé e voltei no outro. Na ida encontrei com o amigo de longa data Carlos Orsi Martinho. Ele afirmou que se planejou para passar o fim de semana na capital. No hotel, adquiri um cartão de acesso à Internet na recepção, mas não o café da manhã, pois, de todo mundo, suspeito que não terei tempo de desfrutar de desjejum amanhã.

Mal tomei posse do quarto 646, exíguo mas adequado, testei a conexão de Internet e regressei à Viriato Correa de metrô.

De volta à Fantasticon, conversei com o Martinho e aproveitei para pedir autógrafo ao livro dele e também no romance vampírico do Flávio Medeiros. Também conversei com o Erick “Draco” Santos e com a Ana Cris sobre a Vaporpunk, elogiando a qualidade do acabamento que já está se tornando uma marca registrada da Draco. Também teci elogios aos trabalhos dos sete outros autores que realmente se esmeraram para escrever trabalhos elaborados e maduros. Ana Cris aproveitou o ensejo para confirmar sua determinação em fazer seu doutorado em história alternativa. Torço para que mantenha o interesse.

Silvio Alexandre veio comentar conosco que as meninas da literatura vampiresca haviam montado um cenário elaborado no palco do auditório para a mesa-redonda “Vozes Femininas na Literatura de Vampiro”. Não resisti e entrei para tirar umas fotos.

Sílvio Alexandre, Mr. Fantasticon.

Outra figura ilustre que nos deu o ar de sua graça foi Alfredo Keppler, ex-presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica que chegou a residir no Rio por uns tempos. Como Keppler anda sem tempo para leituras e só pretendia comprar um livro, recomendei-lhe que adquirisse um Vaporpunk e o autografei para ele. Também autografei exemplares para os membros egrégios do Conselho Steampunk, Cândido Ruiz, Carlos "Karl F." Felipe e José Roberto. Encontrei a autora paulistana Márcia Olivieri, mas, infelizmente, não pude conversar muito com ela.

Eric Novello, Ana Cristina Rodrigues, Max Mallmann, Erick Santos, Flávio Medeiros e eu.

Enquanto eu conversava com o Martinho, Michelle da Moonshadows teve uma crise de pressão baixa e desmaiou por instantes praticamente aos nossos pés. Eu e outras duas ou três pessoas a ajudamos a se pôr de pé e a pusemos sentada numa cadeira próxima. Uma jovem lhe ofereceu água e uma outra biscoitos salgados. Felizmente, não parece ter sido nada sério.

Aliás, minutos mais tarde Michelle afirmou que a Vaporpunk foi o livro mais vendido no estande da Moonshadows: até às 17:00h haviam evaporado mais de trinta exemplares da antologia. Um desempenho para lá de razoável, sobretudo se considerarmos que não se trata de um livro barato (R$ 49,90) e a concorrência das centenas de outros títulos ali vendidos.

1º Esboço da Capa da Vaporpunk.

Após coletar autógrafos dos autores da Vaporpunk presentes para o meu exemplar e o do Sílvio Alexandre, autografar o exemplar do Roberto Causo e pegar o autógrafo do Neon Azul com o Eric Novello, entrei no auditório para assistir a palestra “O Fantástico em Guimarães Rosa”, onde Bráulio Tavares deu um show ao comparar as sagas e estratégias narrativas de Rosa em Grandes Sertões Veredas com Tolkien na trilogia O Senhor dos Anéis. Com sua verve e erudição habitual Bráulio fez dessa participação o ponto alto da Fantasticon 2010. Tirando a mesa-redonda sobre chick-lits vampíricas, a palestra do Bráulio foi o evento que mais encheu o auditório da Viriato Correa.

Palestra de Bráulio Tavares.

Finda a palestra, sob comando de Ana Cris, saímos em comitiva, cerca de trinta pessoas, fora alguns desgarrados que chegaram mais tarde, como Erick Draco e Fernando Trevisan. Após várias idas e vindas ladeira acima Vila Mariana adentro, nossa líder declarou-se definitivamente perdida e amaldiçoou o autor paulistano Alexandre Heredia por nos ter prestado informações cartográficas urbanísticas de todo incorretas. Enfim, quando já começávamos a perder as esperanças, eis que tropeçamos numa espel... ahn, num botequim até então inteiramente às moscas. Comentei com Flávio e Martinho que aquele era um péssimo sinal, mas, ante a falta de opções, ancoramos ali mesmo, para melhor e para pior. O estabelecimento só ofereceu uma funcionária para atender nossa mesa gigantesca e os outros poucos clientes que ainda tentaram, por sua própria conta e risco, adentrar no local. Sentei com Ana Cris à minha direita, Flávio à esquerda, Martinho na frente. Max Mallmann sentou à direita da Ana e Rodolfo Londero à direita do Martinho. Quando chegou meia hora mais tarde, Erick Draco sentou-se à direita do Rodolfo. Erick foi de pronto considerado o homem mais bravo e corajoso da noite pelo fato de ter escapado indomitamente de um casamento para beber com os amigos. Nossa alimentação foi em sua maior parte light e saudável: queijo provolone à milanesa; batata frita; linguiças aperitivo; costelinhas suínas fritas com aipim; e manjubinhas fritas à milanesa. A maioria molhou o rega-bofe com cervejas diversas, enquanto eu, Flávio, Ana e Erick matamos três garrafas de Santa Helena Merlot, porque, afinal de contas, merlot é a casta tinta que desce redonda.

Como in vino veritas, diversas confissões se derramaram à mesa e, curiosamente, não apenas por aqueles que estavam bebendo vinho. O simpático Zero confessou já ter trabalhado como patinador de supermercado, informação rapidamente twittada por Erick para o ciberespaço. Falar sobre o romance A Guardiã da Memória que a Draco deverá lançar nos próximos meses, levou o papo para as síndromes de abstinências como fatores favoráveis ou contrários à criatividade literária, assunto que serviu de pretexto para que um jovem editor confessasse suas predileções zoofílicas felinas em tempos de necessidade, confissão esta que deixou Garfield extremamente preocupado, sobretudo após Ana ter bradado: “Garfield, corra por sua vida!”, ao que rebati, “Ou por sua honra!”

Confraternização na Espelunca.

Eu, Martinho e Flávio trocamos impressões sobre a conduta nem sempre ética de algumas editoras do gênero fantástico, aqui e lá de fora.

Graças aos bons préstimos do Rodolfo, grande pesquisador da FCB e abstêmio que só bebeu água durante toda noitada, logramos fechar a conta pela bagatela de quinhentos e poucos reais o que, dividido por mais de trinta, até que não deu grande coisa.

Heroicamente, Ana, Max, Flávio e outros ficaram para a esticada num outro estabelecimento qualquer. Mais castos e prudentes, eu, Martinho e Rodolfo embarcamos de metrô para nossos respectivos hotéis paulistanos.

Hotel Formule One [Paraíso], São Paulo, 28 de agosto de 2010 (sábado).


Dia 3.
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“Empregar personagens literários à guisa de figuras históricas constitui marca registrada da ficção alternativa e não da história alternativa.”
[Gerson Lodi-Ribeiro]



Fiz o check-out do Formule 1 às 10:30h e rumei para a biblioteca municipal Viriato Correa para o terceiro e último dia de Fantasticon 2010. Ao sair da estação Vila Mariana, encontrei o pesquisador Rodolfo Londero e seguimos papeando até a biblioteca.

Cheguei à biblioteca bem a tempo de iniciar minha palestra, “Histórias Alternativas Lusófonas”. Não tive tempo de ensaiar, mas foi melhor assim, porque o sistema de projeção de PowerPoint do estabelecimento não funcionou. Enquanto aguardava as tentativas de ativar o sistema, bati um papo com Erick Draco e com o editor decano da FC brasileira, Gumercindo Rocha Dorea, que comentou estar redigindo uma carta para mim com comentários de leituras recentes que fez de alguns dos meus textos ficcionais. Também troquei um breve abraço com André Vianco que estava capitaneando uma oficina literária num outro ambiente da Viriato Correa. Após várias tentativas infrutíferas, eu e Sílvio Alexandre desistimos da apresentação em PowerPoint e parti para o velho e confiável gogó mesmo, que esse não dá pau.

Inicialmente, pedi desculpas por não poder fazer a apresentação que planejara, anunciando que teríamos uma palestra alternativa sobre história alternativa em estilo bem steampunk mesmo.

Após umas breves definições iniciais, falei dos precursores do gênero, da relevância dos temas luso-brasileiros e das perspectivas alvissareiras para a história alternativa nacional. Em seguida apresentei um panorama geral dos trabalhos publicados profissionalmente no âmbito das histórias alternativas brasileiras, com certa ênfase nas preferências brasileiras em potencial (Impérios do Brasil Alternativos e Amazônias Alternativas) e então cumpri a promessa de campanha de abordar o subgênero steampunk, falando das duas antologias, a Steampunk da Tarja e a nossa Vaporpunk, com direito a comentários sobre os contos e noveletas mais notáveis. Finalmente, anunciei o lançamento para 2011 da antologia Dieselpunk, uma espécie de steampunk lato sensu.


Encerrada minha fala, passei a palavra à plateia. Ana Cris discordou de que o conto “Uma Vida Possível Atrás das Barricadas” de Jacques Barcia na antologia da Tarja constituísse história alternativa e acabei concordando com ela. Rodolfo Londero indagou se um conto sobre a sobrevivência de Graciliano Ramos ao cárcere constituiria história alternativa, o que me levou a falar um pouco da subvertente das histórias alternativas de cunho pessoal. Bráulio Tavares comparou as H.A. pessoais aos estudos de micro-história atualmente em voga na academia. Após concluir que eu havia classificado seu conto “Flor do Estrume” como ficção alternativa, Antônio Luiz indagou se a noveleta “A Extinção das Espécies” de Carlos Orsi constituiria história alternativa mesmo propondo aparentemente um universo com leis físicas diferentes daquelas que regem nosso próprio universo. Chamado para dirimir a questão, o autor esclareceu que realmente propôs sua teoria da força vital baseado em leis naturais diferentes, o que descaracterizaria a noveleta como história alternativa, de um ponto de vista purista. Roberto Causo perguntou sobre histórias alternativas inspiradas em teorias científicas e visões de mundo diferentes da nossa. Embora a plateia de cerca de trinta pessoas parecesse disposta a discutir questões relacionadas às histórias alternativas por mais tempo, em virtude da programação esticada, Sílvio foi obrigado a encerrar a sessão.

Fora do auditório, regressei ao estande da Moonshadows para comprar um último livro, a coletânea Anjos, Mutantes e Dragões (Devir, 2010) do Ivanir Calado. Também peguei um autógrafo do Antônio Luiz em sua coletânea Eclipse ao Pôr do Sol, adquirida na véspera.

Ali mesmo, Cândido Ruiz — que à véspera já chamara minha atenção para a existência de fotos dos autores e organizadores ao fim da Vaporpunk — comentou comigo quando eu estava conversando com o Bráulio, que só depois de algum tempo lembrara da origem da terceira estrofe da música “Highwayman” do Jimmy Webb que inseri na abertura de minha noveleta “Consciência de Ébano”. Ele se surpreendeu com o fato de que a letra da música se encaixa com perfeição ao enredo. Expliquei que, realmente, trata-se de uma homenagem ao compositor e que, sim, a letra das três primeiras estrofes correspondem, respectivamente, às histórias, “Capitão Diabo das Geraes”; “Morcego do Mar”; e “Consciência de Ébano”. De bate-pronto, Cândido arrematou:


— Mas, espera aí! E a quarta estrofe? Aquela que ele está na nave espacial...

Com meu melhor sorriso enigmático de autor experiente nos lábios, confessei sem graça:

— Essa quarta história eu ainda não escrevi...

Uma salva de palmas para a perspicácia do Cândido: primeiro leitor da intuir a inspiração desse trio de trabalhos da linha histórica alternativa dos Três Brasis.


Do estande de vendas fomos almoçar numa pastelaria próxima. Uma comitiva menor desta vez, composta por eu, Carlos Orsi, Flávio Medeiros, Antônio Luiz, Erick Draco e sua esposa Janaína, Ana Cris, Max Mallmann, Carlos Patati, Rodolfo Londero e outros. Desde logo, Patati me avisou que os pastéis ali eram enormes. Devidamente alertado, limitei-me a um pastel quatro queijos que cumpriu as honras de lauto almoço. Fingindo ignorar o alerta, Erick pediu dois pastéis e, pior, conseguiu trucidá-los antes que eu terminasse o meu. Durante o almoço, discutimos certas imposturas intelectuais, inclusive da parte de cientistas. Rodolfo contou-nos algumas particularidades de seu estado natal, o Amapá. Segundo ele, a região daria pano para manga em termos de enredos de história alternativa.

Eu, Antônio Luiz, Martinho, Rodolfo, Erick e Janaína demos boas gargalhadas com a postura de alguns críticos em relação à obra de meu pseudônimo Carla Cristina Pereira. Martinho confessou que chegara a suspeitar certa feita de que éramos a mesma pessoa por causa da similaridade de estilos, mas que depois teria arquivado a ideia por implausível. Ante a curiosidade de Rodolfo, confirmei que minha inspiração realmente foi o caso de James Tiptree, Jr., pseudônimo masculino da autora de FC norte-americana Alice Sheldon. Confessei que inicialmente criara Carla em 1995 apenas para escrever artigos e ensaios em fanzines. Contudo, com o advento das antologias temáticas em ambos os lados do Atlântico no fim da década de 1990, não resisti à possibilidade de publicar dois trabalhos por livro, graças ao emprego de meu alter ego feminino...

Carlos Orsi Martinho, Carlos Eugênio Patati e Sérgio Pereira Couto na pastelaria.

De volta à Viriato Correa, fechei minha conta com a Michelle da Moonshadows, que me pagou em cash as Phantasticas e as Gostosas que eu lhe entregara na véspera. Mesmo abatidos os oito livros que eu comprei com a livraria, deu uma graninha legal!

Despedidas efetuadas, caminhei com o Carlos Orsi Martinho até a estação Vila Mariana e dali tomamos o metrô até o terminal rodoviário Tietê, onde ele comprou uma passagem para Jundiaí e eu embarquei no ônibus da Expresso Brasileiro rumo ao Rio de Janeiro. Leitura de viagem: Anjos, Mutantes e Dragões do Ivanir Calado. Sensacional.

De novidades da Fantasticon 2010, a alegria de ter conhecido fãs e autores novos, a satisfação com o sucesso de vendas da Vaporpunk e com a desova de mais alguns exemplares das antologias antigas da Ano-Luz e o alívio de ter proferido mais uma palestra razoavelmente interessante e bem-sucedida sobre histórias alternativas lusófonas. E, claro, prazer por ter trazido para casa mais uma dezena de bons livros, um dos quais, inclusive, ajudei a concretizar. Acabou que só consegui assistir ou participar de três atividades oficiais, a mesa-redonda dos editores, a palestra do Bráulio e a minha própria. Em compensação, pude bater papo e trocar bastante calor com a galera, conhecer melhor a nova geração da FCB e compartilhar de umas poucas fofocas do fandom. Ou seja, o que há de melhor na vida da comunidade da FC brasileira.

Para o ano tem mais!

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 29 de agosto de 2010 (domingo).



Participantes:
Adriano Piazzi (Aleph)
Alexandre Heredia
Alfredo Keppler
Ana Carolina Silveira.
Ana Cristina Rodrigues
André Vianco
Aurisson
Bráulio Tavares
Cândido Ruiz (Conselho Steampunk)
Carlos Alberto Machado
Carlos Eugênio Patati
Carlos "Karl F." Felipe (Conselho Steampunk)
Carlos Orsi Martinho
César R.T. Silva
Cláudio Villa
Daniela Padilha (Difusão Cultural)
Douglas MCT
Douglas Quintas Reis (Devir)
Edgard "Garapa" Refinetti
Ednei Procópio (Giz)
Eric Novello
Erick “Draco” Santos & Janaína dos Santos.
Fernando Trevisan
Flávio “Garfield” Medeiros
Gerson Lodi-Ribeiro
Giampaollo Celli
Giulia Moon
Gumercindo Rocha Dorea.
Hugo Vera
Leandro Reis
Marcelo Galvão
Marcia Olivieri
Martha Argel
Max Mallmann
Michelle (Moonshadows)
Nazarethe Fonseca
Richard Diegues
Roberto de Sousa Causo
Rodolfo Londero
Sérgio Pereira Couto
Sílvio Alexandre
Tibor Moricz

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ana Carolina in Rio 2010

2010.08091350P2  — 18.294 D.V.


“A melhor capa da ficção científica brasileira!”
[Romeu Martins]




Ana Carolina, Rafael "Lupo Monteiro", Mariana "Belly" Gouvin

Deu-se na noite de sábado passado (07/08) mais uma das confraternizações semiperiódicas da ficção científica carioca, desta feita sob pretexto da breve estada da jovem escritora mineira Ana Carolina Silveira aqui no Rio, hospedada na casa da Ana Cris e do Estevão Ribeiro.

Ana Cris marcou o evento para às 19:00h no Espaço Gourmet, mas só consegui chegar lá cerca de uma hora mais tarde. Além das duas Anas, Cris e Carol, já estavam lá os amigos Max Mallmann e Rafael “Lupo” Monteiro.

Apresentações e cumprimentos, um dos primeiros comentários da noite foi a boa repercussão da capa da antologia de história alternativa que organizei com o Luís Filipe Silva para a Draco, a Vaporpunk, que será lançada na Fantasticon 2010, no fim do mês lá em Sampa. A divulgação da capa no meio da semana passada suscitou uma saraivada de comentários, em sua maioria favoráveis, não faltando formadores de opinião que, a exemplo de Romeu Martins e Tibor Moricz, afirmaram se tratar da melhor capa de livro da ficção científica brasileira até hoje. O importante é que a capa atraia atenção suficiente para fazer o leitor em potencial tirar o livro da estante ou stand para examiná-lo nas próprias mãos. Creio que a capa cumprirá esse objetivo.

Aliás, outro papo de início de noite foi descobrir quem iria à Fantasticon. Eu e Ana Cris e Carol confirmamos presença. Falarei sobre “Histórias Alternativas Lusófonas” no domingo, dia 29 de agosto, entre 11:00 e 12:00h. Eu e Ana colocamos pilha no Max para convencê-lo a comparecer.

Mineira de Viçosa, atualmente radicada em Belo Horizonte, Carol confirmou conhecer nosso amigo Flávio “Garfield” Medeiros pessoalmente.

Como o almoço de sábado aqui em casa havia sido tão lauto como de costume, limitei-me a porções de carpaccio e queijo gorgonzola, se bem que repeti o prato duas vezes.

Tomamos um Maximo Boschi Cabernet Sauvignon 2000 que, contrariando as expectativas pessimistas, estava não apenas íntegro e potável, mas saboroso, o que é de se admirar, em se tratando de um tinto gaúcho com uma década de armazenamento. Lembro que no ano passado ou retrasado, tomamos um Maximo Boschi Merlot 2001 ali e ele também estava excelente, de forma que a qualidade desse Cabernet não constituiu surpresa total. Nem é preciso dizer que persuadi minha afilhada a abandonar a tulipa de chope incontinenti em favor daquela gostosura. Tampouco precisa ser dito que aquela primeira garrafa se esvaiu em pouquíssimo tempo, obrigando-nos a pedir uma segunda, idêntica e tão boa quanto a primeira.

Tanto o atual presidente do Clube de Leitores de Ficção Científica, Eduardo Torres, quanto Mariana “Belly” Gouvin haviam confirmado presença. Fiz fé no Edu, pois quando fala que irá, não costuma faltar. Já na Belly não apostei minhas fichas, porque ela é meio furona, de vez em quando diz que vai, mas não dá as caras. No entanto, desta vez deu zebra: justo a Belly foi a próxima a chegar, bem a tempo de experimentar da segunda garrafa do Maximo Boschi. Edu em si só chegou por volta das 21:30h, só degustando uma última taça daquela segunda garrafa. Entusiasmado, resolveu pedir uma terceira em sua comanda. Infelizmente, o estoque de Maximo Boschi da casa se esgotara, forçando Mr. President a optar por um belo exemplar de tinto português da região do Douro.

Belly ficou orgulhosa e satisfeita com o exemplar autografado do Centésimo em Roma com que Max lhe presenteou. Ao longo da noitada, ela teve que defender com unhas e dentes a posse do romance contra as garras ávidas dos demais convivas.

Anunciei a aceitação da versão definitiva de minha monografia Vinho no Mundo Romano pelo Programa de Estudos Culturais e Sociais da Universidade Cândido Mendes e a consequente conclusão de meu MBA em Vinho & Cultura.

Aliás, ainda na sessão de anúncios públicos e correlatos, comentei sobre o concurso público para Fiscal de Rendas do Município do Rio de Janeiro, com edital publicado, início das provas em 24 de setembro próximo e salário inicial de R$ 11.400,00. O tema causou algum frisson na mesa, mas não muito.

As duas grandes discussões da noite foram, pela ordem, nossas escolhas de candidato na próxima eleição presidencial e o mal causado pelas religiões.

Com a iconoclastia típica da juventude, Belly e Carol insistiram em afirmar que vão votar no pândego do Plínio Arruda — atitude que me lembrou uma brincadeira com a campanha presidencial norte-americana de duas ou três eleições atrás: “Cthulhu for President: Why vote for a lesser evil?” (o site ainda está no ar: www.cthulhu.org). Houve gente boa em nossa mesa que, suspeito, pretende votar na Dilma, mas tem vergonha de admitir... Repeti que fui obrigado a trocar a Marina Silva pelo José Serra por pura falta de melhor opção, quando descobri que a candidata do PV é criacionista.




A questão do criacionismo da Marina e de boa parte da bancada evangélica do Congresso trouxe à baila o segundo grande tema da noite, as tragédias que a religião organizada proporciona para as sociedades modernas. Edu e Belly trocaram ideias a respeito na extremidade oposta da mesa, enquanto o recém-chegado Estevão Ribeiro nos mostrava o pôster safadinho Bola-Gata que elaborou para o caderno esportivo do jornal onde trabalha. Aliás, o papo do Edu com a Belly deve ter sido cabeça, pois culminou em doses de whisky e na adoção dela como afilhada de Mr. President, o que faz dela a “Primeira Afilhada” da FC Carioca.

Max (versão Mirror, Mirror), Ana Cris, Gerson, Carol & Lupo.

Houve uma hora em que as três meninas se asilaram no banheiro feminino e lá permaneceram de ti-ti-ti por coisa de vinte minutos, para gáudio par ala masculina da mesa, que passou a tecer considerações de caráter sociológico sobre o comportamento gregário das fêmeas da espécie em toaletes de restaurantes, cinemas e shoppings.

Claro que a indefectível rodada de Cointreau não podia faltar à guisa de saideira. Como Belly e Carol se mostraram curiosas, orientei-as habilmente a experimentar do cálice da Ana Cris.

Quando enfim fomos obrigados a deixar o estabelecimento por volta de uma da matina, pois os garçons já haviam virado as cadeiras sobre as outras mesas e demonstravam certa impaciência, por assim dizer, pelo fato de sermos os últimos clientes, Eduardo se despediu de nós e rumou para casa a pé, uma vez que mora a dois ou três quarteirões de distância. Todos os demais se dirigiram aos bares do início da Voluntários da Pátria para retomar de onde haviam parado. Acompanhei-os até lá, pois não havia táxi em frente ao Espaço Gourmet. Como Belly estava meio alegrinha, resolvi testar seu coeficiente etílico, simulando uma tentativa de lhe surrupiar seu Centésimo em Roma. Pelo visto, ela estava inteiramente sóbria, pois ameaçou me bater e a reação não me pareceu em absoluto simulada.


Pós-saideira (cadeiras viradas ao fundo)

Uma vez na V.P. logrei agarrar um táxi e regressar ao lar já em pleno domingo do Dia dos Pais.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 09 de agosto de 2010 (segunda-feira).

Participantes:
Ana Carolina Silveira
Ana Cristina Rodrigues
Eduardo Torres
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Mariana Gouvin
Max Mallmann
Rafael “Lupo” Monteiro