quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Fim de Ano da Llyr na Casa da Leitura


Fim de ano da llyr
na
casa da Leitura
 

201212152359P6 — 19.153 D.V.

 

Noutro evento em petit committee, compareci hoje à tarde na Casa da Leitura em Laranjeiras para o evento de fim de ano da editora Llyr.

Apesar da plateia reduzida, talvez em virtude do sábado chuvoso, o evento — um misto de mesa-redonda e bate-papo — mostrou-se produtivo e divertido.

*     *      *

 

Ainda sob efeito dos excessos literários, etílicos e gastronômicos — não necessariamente nesta ordem — da noite passada aqui em casa, por ocasião da vinda do Flávio Medeiros ao Rio, almocei um risotinho de frango caseiro e parti para a empreitada da Llyr no bairro carioca das Laranjeiras.

Levei uma mochila carregada de livros.  Pois, mesmo sem muita esperança de concretizar vendas, por insistência de minha amiga, Ana Cristina Rodrigues, levei oito exemplares da antologia Como Era Gostosa a Minha Alienígena! (Ano-Luz, 2002) e da coletânea Histórias de Ficção Científica da Carla Cristina Pereira (Draco, 2012).  Minha perspectiva se revelou realista.  Ninguém se interessou pelos livrinhos.

Fui escalado para participar de uma mesa-redonda com os autores Estevão Ribeiro e Marcelo Amaral, com moderação da Ana Cris.  Como essa atividade estava prevista para começar às 16h00, cheguei coisa de meia hora antes, pegando o fim da oficina literária ministrada pela Ana para uma plateia seleta e interessada.  Os conselhos, sugestões e perguntas de costume pipocaram animadas sobre editais, preparo de originais, revisões, leitores betas e leituras críticas, expectativas, publicação paga e cuidados na relação de amor-ódio entre autores e editores.  Pelo teor e pertinências das perguntas da plateia, fiquei com a impressão de que havia mais de um autor iniciante do outro lado da mesa-redonda.  No quesito exemplos práticos, ao falar de autores que se metem na diagramação ou na confecção da capa, Ana citou o caso do próprio Marcelo Amaral, autor do romance de fantasia infantojuvenil Palladinum: Pesadelo Perpétuo (Llyr, 2011), como contraexemplo.  Marcelo não só elaborou a capa e as ilustrações internas do romance, como ainda insistiu em alterar a diagramação, pelo que entendi, com resultados positivos.

Estevão Ribeiro, Ana Cristina Rodrigues e Marcelo Amaral:
relação de amor-ódio entre autores e editores.
 
Ao longo da tarde, Ana Cris se dividiu entre os eventos da Llyr na Casa da Leitura e o acompanhamento online via tablet do processo seletivo de uma premiação literária que ela está coordenando na Fundação Biblioteca Nacional.  É que, não obstante os compromissos firmados, um dos jurados da categoria romance divulgou a lista de finalistas no Facebook.

No intervalo entre uma atividade e a outra, rolou umas torradas com coca-cola trazidas pelo Estevão de uma padaria próxima, com direito a chocotone à guisa de sobremesa.

A segunda parte do evento consistiu na mesa-redonda em si, presidida por nossa augusta editora Ana Cris, que falou dos projetos da Llyr para 2013, confirmando a publicação, dentre outros livros, do meu romance de ficção científica hard Quando Deus Morreu, que ela crê possuir uma pegada juvenil.  Espero que esteja certa.  Em minha defesa, declaro que o protagonista é um adolescente, Eduardo Torres, e a trama não possui, ao que eu me lembre cenas de sexo explícito.J

Em seguida, Ana passou a palavra ao Marcelo que falou sobre um segundo romance no universo ficcional Palladinum.

Na minha vez de falar, antes de abordar meus planos, atividades e lançamentos para 2013, falei um pouco do que fiz neste ano, com ênfase à organização de quatro antologias com submissões abertas (maratona exaustiva que me levou a analisar mais de quinhentos textos originais no total), na concretização do sonho de lançar minha coletânea Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira (Draco, 2012) e da antologia Erótica Fantástica 1 (idem), além da conclusão do primeiro romance de uma trilogia que estou escrevendo no universo ficcional Ahapooka (A Guardiã da Memória).  Ao falar da coletânea carliana, tive que explicar o porquê de ter criado a persona feminina.  Neste ponto, Ana Cris puxou pela memória, lembrando as paixões que Carla despertou ao longo dos anos.  Daí, falei dos meus planos para 2013, com ênfase aos lançamentos de Quando Deus Morreu pela Llyr e As Aventuras do Vampiro de Palmares pela Draco.  Não cheguei a falar de minha pretensão de concluir o segundo romance da trilogia Mundo-Sem-Volta, até porque não sei se conseguirei fazê-lo.

Por último falou Estevão Ribeiro, cujos planos para o ano vindouro foram os mais extensos ou, pelo menos, os mais detalhados, com ênfase na graphic novel verniana Da Terra à Lua, para a qual escrevi o prefácio; da série Pequenos Heróis e de mais um volume das HQs de Os Passarinhos.

Marcelo Amaral, GL-R, Estevão & Ana Cris.
 
Findas nossas falas, abrimos para as perguntas da plateia que versaram, em sua maioria, sobre a aceitação de originais pelas editoras.

Após o evento na Casa da Leitura, o pessoal estava programando sair para comer alguma coisa e prosseguir com o bate-papo num ambiente menos formal.  No início, planejei ir, mas depois, julguei melhor regressar à base para recarregar as baterias.

Neste fim de semana de atividades intensas na seara da ficção científica carioca, quase não houve tempo para escrever crônicas sobre as experiências vividas.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 2012 (sábado).


Participantes:
       Ana Cristina Rodrigues

Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Marcelo Amaral

domingo, 16 de dezembro de 2012

Flávio Garfield Medeiros in Rio




Flávio Medeiros in rio 2012

 

201212142359P6 — 19.152 D.V.

 “Muito obrigado, Edu!  Sem a força do seu fundo de pensão, minha vinda ao Rio não seria possível...
[Flávio Medeiros em discurso de agradecimento a Eduardo Torres]

 

Aproveitando a presença inopinada de nosso amigo Flávio Medeiros Jr. na Cidade Maravilhosa para participar da cerimônia de premiação do XII Concurso de Contos Petros, patrocinado pela Petrobras, marcamos um jantar em petit committee no restaurante Risata, com direito a uma esticada aqui em casa para degustar uns vinhos legais.

*     *      *

 

Na manhã de hoje, enquanto me preparava para sair ao trabalho, recebi um torpedo do Flávio Medeiros, dando conta de que estava na cidade e, portanto, em princípio, disponível para sair com os amigos à noite, pois regressaria para Belo Horizonte apenas no sábado de manhã.  Liguei de volta e combinamos um jantar às 20h00 no Risata, um restaurantezinho especializado em risotos muito simpático que abriu há três meses em frente ao nosso prédio.  Prometi que, depois do jantar no restaurante, daríamos um pulo aqui em casa para degustar uma ou duas garrafas de um vinho de fina estirpe.

A caminho do trabalho, liguei para tentar arrebanhar os amigos Ana Cristina Rodrigues, Eduardo Torres, Max Mallmann e Octavio Aragão para o evento.  Max confirmou de bate-pronto.  Edu ficou de dar uma resposta no meio da tarde e acabou confirmando também.  Octavio estava preso num daqueles compromissos familiares inadiáveis e Ana Cris andava às voltas com a organização de um concurso ou prêmio literário por conta da Fundação Biblioteca Nacional.  Sugeri que, se fosse o caso, bypassar o jantar e aparecer só para o vinho lá em casa, mas, ao frigir dos ovos, eles não puderam vir.

Deste lado do front, Cláudia deveria comparecer numa cerimônia em homenagem à Escola Naval pela câmara de deputados em pleno Palácio Tiradentes.  O horário previsto para o início da cerimônia era às 19h00 e sem hora para acabar.

Decidi chegar ao Risata às 19h45 para garantir a mesa, mas tal não foi preciso, pois, quando ingressei no estabelecimento, só havia um cliente lá dentro: meu amigo Max Mallmann.  Boa oportunidade para colocarmos nosso papo em dia.  Ele falou sobre algumas nuances dos roteiros e da produção do seriado global A Grande Família, comentamos o filme e o seriado Mulher Invisível, em função da recente premiação desse último no Emmy.  Max também me esclareceu certas dúvidas sobre o enredo do romance de continuação ao Centésimo em Roma que ele deve lançar no segundo semestre de 2013.  Falamos um pouco sobre as repercussões do lançamento paulistano de minha coletânea carliana Histórias de Ficção Científica de Carla Cristina Pereira.
 
GL-R, Eduardo Torres, Flávio Medeiros e Max Mallmann no Risata.

Preso num engarrafamento em Botafogo, nosso convidado de honra Flávio Medeiros chegou por volta das 20h30 com uma mala repleta de livros.  Ato contínuo, explicou-nos o motivo de sua vinda-relâmpago ao Rio.  Sagrou-se finalista num concurso literário, o XII Concurso de Contos Petros, patrocinado pela Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros), o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras.  Como finalista, teve suas despesas de passagem aérea, alimentação e hospedagem bancadas pelo Petros, com direito, inclusive, a acompanhantes e extensivo ao fim de semana completo na Cidade Maravilhosa — benesses que, infelizmente, não aproveitou, pois sua esposa, Luciana, não pôde vir com ele.  Coisa de meia hora mais tarde, chegou Eduardo Torres, que havia ficado igualmente retido no engarrafamento supramencionado.  Como engenheiro da Petrobras, nosso amigo Edu não logrou esconder sua preocupação com os gastos milionários de seu fundo de pensão.  Para amenizar o clima, Flávio agradeceu efusivamente pela oportunidade de vir ao Rio, rever os amigos e, melhor ainda, ser publicado, tudo às custas de Eduardo e outros milhares de pensionistas e, quem sabe (pois o futuro é incerto), futuros pensionistas.  Frisamos o lado positivo do patrocínio ao mecenas involuntário: se o Petros possui tantos recursos assim para esbanjar — algo como a caixa-forte abarrotada do Tio Patinhas, em que é preciso torrar alguns milhões de reais porque simplesmente não cabe mais numerário lá dentro... — é sinal de que sua aposentadoria está assegurada.  Claro que sempre há o lado negativo, nosso amigo matutou, lembrando que não foi o primeiro ou sequer o quinto concurso de contos, mas o décimo-segundo...
 
Flávio presenteia seu mecenas involuntário com um exemplar da antologia.
 

Flávio conquistou o segundo lugar no XII Petros com o conto “Conto de Fadas”, uma atualização satírica da velha historinha “A Princesa e o Sapo”.  A escolha final — após uma comissão ter escolhido os trinta trabalhos finalistas — ficou a cargo do escritor, jornalista e tradutor, Carlos Heitor Cony.  Embora o concurso seja voltado para contos mainstream, o trabalho do Flávio em particular se enquadraria sem dificuldade numa antologia de fantasia.  É a terceira premiação de nosso amigo em 2012.  As outras duas foram o segundo lugar no Concurso Hydra com o conto de ficção alternativa “Por um Fio” e o Prêmio Argos na categoria ficção curta, com a bela noveleta de ficção científica, “Pendão da Esperança”.[1]

Com os quatro já presentes, pedimos o cardápio.  Eu, Flávio e Max escolhemos picanha (a minha, acompanhada por batata rösti), Edu, quiçá já preocupado com despesas futuras, limitou-se a um risoto.  Como iríamos tomar vinho lá em casa após o jantar no Risata, eu, Edu e Flávio nos limitamos a taças de branco argentino, para acompanhar o couvert, e tinto, para regar os pratos principais, ao passo que Max manteve-se fiel às suas Boemias.

Durante o jantar conversamos sobre as idiossincrasias do subfandom carioca e os últimos embates e novidades das redes sociais e listas de discussão.  Flávio lamentou não ter a oportunidade de conhecer pessoalmente o legendário Miguel Carqueija.

Ao fim do ágape, Cláudia chegou do Palácio Tiradentes e se sentou conosco, degustando os últimos fiapos de batata rösti do meu prato, pois não havia jantado.  Quitada a conta, atravessamos a rua, transferindo a bagunça aqui pra casa.  Para acompanhar os vinhos, servimos mousse de salame hamburguês, pasta de grão-de-bico, pão sírio e queijo provolone.  Abrimos o serviço com um tinto italiano, o Sponsà Veronese 2009, da Tenuta Sant’Antonio.  Cláudia preferiu um espumante, o Chardonnay Brut da Panizzon.  À medida que a noite avançava, liquidado o italiano, para homenagear tanto o Flávio, autor galardoado, quanto o Edu, mecenas da ficção curta, passamos ao ícone chileno, Clos Apalta 2008, da Casa Lapostolle, devidamente decantado de modo a revelar todo o seu potencial.  Enfim, quando a noite se transformou em madrugada, fechamos com chave de ouro com o excelente Sordo Barolo 2005, um tanto jovem, é certo, mas não é sempre que o Flávio vem ao Rio, então, valeu o pretexto.J

Flávio mostrou seu diploma do XII Petros e presenteou com exemplares autografados da antologia comemorativa que, este ano, homenageou o autor Marcelo Rubens Paiva.  Além das despesas pagas, ele recebeu cinquenta exemplares e uma bela bolsa do XII Petros.  Eduardo mostrou-se mais uma vez preocupado e até temeroso com o teor desta crônica.  Aproveitei o ensejo para presentear Flávio com um exemplar autografado da minha coletânea carliana.

Flávio Medeiros: premiado & diplomado mais uma vez!

Nosso convidado de honra aqui em casa.


Conforme os teores alcoólicos se elevaram em nossas bravas correntes sanguíneas, nossas línguas foram se soltando.  Daí, não me espantei tanto com os elogios rasgados do Flávio à ousadia erótica em algumas cenas de meu romance de ficção científica A Guardiã da Memória (Draco, 2011).  Confessei-me ligeiramente preocupado com a associação automática do meu nome a textos com carga erótica explosiva.  O fato é que tenho recebido ultimamente, junto com convites para participar de antologias de ficção curta, alguns toques para maneirar porque os antologistas pretendem veicular seus livros junto à rede escolar e, embora os adolescentes reprimidos de plantão pudessem até adorar o tipo de texto erótico que costumo escrever, as professoras responsáveis pela seleção de material de leitura dificilmente o aprovaria.

Bate-papo animado: colocando as fofocas em dia.
 
Brinde dos quatro heróis etílico-literários!
 
Nosso convidado de honra falou-nos de suas experiências memoráveis em Las Vegas e logrou apagar pelo menos parte de nossos preconceitos contra a meca norte-americana do jogo e da diversão.  Como jamais apreciamos a jogatina, a ponto de, vinte anos atrás, termos sobrevivido virgens e incólumes às pretensas tentações dos Cassinos de Montecarlo e Estoril, Las Vegas nunca pontuou como um de nossos sonhos de consumo turístico.  Só que Garfield nos contou sobre uma porrada de Circos de Soleil existentes na cidade, dos restaurantes cinco estrelas a preços módicos e das excursões de helicóptero ao Grand Canyon a preços mais acessíveis do que um mísero sobrevoo na Zona Sul do Rio.  Daí, para sonharmos com uma outra excursão, partindo de Las Vegas para a Cratera do Meteoro foi um pulo...  Sem dúvida, nosso amigo nos fez rever nossos conceitos!

Bate-papo animado: in vino veritas!
 
Lá pelas tantas, Flávio trouxe à baila a questão de meu boicote ao Concurso Hydra, assumido publicamente na primeira semana da Fantasticon 2012.  Expliquei que, apesar de considerar Orson Scott Card um autor extremamente talentoso de ficção científica e fantasia, bem como uma pessoa humana afável (pelo menos foi a impressão que tive quando o conheci pessoalmente no interior de São Paulo no fim da década de 1980), discordo frontalmente de sua postura política homofóbica.  Diante dessa discordância, não faz sentido participar de um certame literário patrocinado por aquele autor.

Casal anfitrião.
 
Vítimas do pelotão de fuzilamento em ordem de abate.
 
Em meio à degustação do Barolo, Flávio perpetrou a confissão da noite, declarando não possui o sentido do olfato para todo e qualquer efeito prático.  Daí, o assunto derivou para os alegados aromas sutis dos vinhos e, então, para os kits de aromas enológicos.  Foi o bastante para que minha cara-metade buscasse nosso kit e nós cinco passássemos a brincar de experimentar e tentar adivinhar os aromas dos diversos frascos do kit.  Há um ditado no mundo enológico que afirma que “degustação às cegas constitui uma lição de humildade”.  Pois bem: Eduardo foi o único a conseguir adivinhar um único aroma dos quatro ou cinco experimentados.  A exceção óbvia foi a essência de amêndoas, que nós cinco logramos acertar.

Nosso evento terminou sob protesto por volta das 02h00 de sábado.  Um encontro memorável sob dezenas de aspectos.  Pena que muito do que falamos não possa constar de uma crônica pública como esta.  A lamentar de verdade, apenas as ausências da Luciana, da Ana Cris e do Octavio.

Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 14 de dezembro de 2012 (sexta-feira).


Participantes:


       Cláudia Quevedo Lodi
Eduardo Torres
Flávio Medeiros
Gerson Lodi-Ribeiro
Max Mallmann



[1]. O primeiro lugar do XII Petros foi para o conto enxuto e pungente “A Gaiola”, de Éber Veríssimo Rocha.