terça-feira, 17 de setembro de 2013

Lançamento carioca da Brasil Fantástico

201309142359P7 — 19.428 D.V.



“Todo sujeito é virgem até copular e engravidar sua própria avó”
(Robert Silverberg, in Up the Line)





Compareci hoje ao lançamento carioca da antologia Brasil Fantástico (Draco, 2013), organizada por Clinton Davisson, Grazielle de Marco e Maria Georgina de Souza, sob a chancela do Clube de Leitores de Ficção Científica.  O evento se desenrolou nesta tarde de sábado na livraria Cultura Cine Vitória, instalada no notório número 45 da Rua Senador Dantas, bem pertinho da Cinelândia, onde, décadas atrás, ficava o Vitória, cinema especializado em filmes pornôs de sexo explícito que marcou a ala masculina de umas duas ou três gerações cariocas.
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Fui para a Cinelândia de ônibus de integração e metrô.  Com todas as atenções da Cidade Maravilhosa concentradas no extremo oeste do município nesta tarde ensolarada de sábado por conta do Rock in Rio, o trânsito estava fluindo assombrosamente bem em todos os outros bairros.  Cheguei ao antigo Cine Vitória pontualmente às 15h00 embora, àquela altura, já desconfiasse que o lançamento só fosse começar uma hora mais tarde.  A livraria é imensa, com diversos planos e andares conectados uns aos outros por rampas, passagens dimensionais e escadas, rolantes e convencionais.  Há ocasiões, ao longo daqueles salões e corredores, em que é preciso subir para descer, e vice-versa.  Não imaginei que o Vitória fosse tão espaçoso.  Parece muito maior por dentro do que por fora.  O lançamento em si rolou num pavimento intermediário, batizado Galeria Cultura.
Anfitrião do evento, Clinton Davisson também chegou mais cedo.  Encontrei com Mr. President vagando pelas vastidões da Cultura, tão perdido quanto eu.  Seguimos juntos até Eliane, a funcionária da livraria responsável pela organização de eventos.  Simpática, a moça nos conduziu até a Galeria Cultura.

Mr. President Clinton Davisson na Galeria Cultura.


Uma vez instalado, Clinton se preocupou com as conexões internéticas, pois a ideia era estabelecer um link via Skype com Porto Alegre, onde, noutra filial, decerto mais convencional, da Cultura, dava-se a outra metade do lançamento simultâneo da Brasil Fantástico.  Embora esse vínculo tenha sido eventualmente estabelecido, a qualidade rumorosa da relação sinal/ruído praticamente impossibilitou a interação de gaúchos e cariocas em tempo real.  O som do notebook do Clinton era tão baixo que mal lográvamos ouvir o que os autores gaúchos falavam do outro lado.  De todo modo, parece que o lado sulista do lançamento bombou, com trinta exemplares vendidos.  Do nosso lado, Clinton confirmou a venda de dezoito exemplares.
Marcelo Jacinto Ribeiro foi o próximo a chegar.  Participante da antologia com a noveleta “A Voz de Nhanderuvuçú”, Marcelo veio direto de Campinas e foi o único dos onze autores presente no lançamento carioca.

Marcelo Jacinto Ribeiro, Ana Lúcia Merege e Clinton Davisson.


Em seguida chegou Ana Lúcia Merege.  Aproveitamos que ainda havia pouca gente na Galeria Cultura e conversamos sobre amizades comuns do passado, pois Ana frequentou o grupo de amigos de meu irmão caçula, a célebre Associação de Pinguços Maristas.  Aproveitamos o ensejo para combinar alguns lançamentos futuros em parceria.  De repente, faremos juntos os lançamentos cariocas das antologias draconianas Solarpunk e Excalibur.
Os amigos Jorge Pereira e Eduardo Torres adentraram pouco depois no portento, instante providencial em que a Cultura cumpriu a promessa feita pela Eliane e começou a servir água e vinho branco aos convivas.  Minutos mais tarde, chegavam Luiz Felipe Vasques e Ricardo França.
Atrasado em sua jornada épico-trágica do Recreio dos Bandeirantes para a Cinelândia, de tempos em tempos Erick Sama nos informava seu paradeiro por SMS.  Perguntou-nos por mensagem se Cirilo Lemos já havia aparecido na livraria.  A pergunta surpreendeu os incautos, pois, até então, esse autor misterioso jamais havia sido avistado num evento público, fato que — num fandom assombrado por pseudônimos, avatares e outras bestas mitológicas — levava não poucos detratores a duvidar de sua existência real.

Eduardo Torres, GL-R, Jorge Pereira e Luiz Felipe Vasques.

Atrás (E-D): Clinton, Ana Cris, Ana Merege, Luiz Felipe, Edu Torres, GL-R, Jorge, Marcelo Jacinto, ??.
1º Plano: Cirilo Lemos, Erick Sama, Ricardo França e Nilton Braga.


Quando o lançamento já singrava de vento em popa, Ana Cristina Rodrigues chegou com um exemplar do primeiro número da Bang! Brasil nas mãos.  Daí, pudemos enfim folhear a revista de que tanto ouvimos falar.  A edição brasileira está realmente pedaçuda em acabamento e conteúdo, com matérias sobre George R.R. Martin, os novos lançamentos da Saída de Emergência no país e um artigo de fundo sobre a saudosa Coleção Argonauta.  Participo desse primeiro número da Bang! Brasil com um ensaio de história alternativa sobre a possibilidade de Cristóvão Colombo haver descoberto a
América sob bandeira portuguesa; possibilidade esta, aliás, explorada amiúde em meu romance Xochiquetzal: uma Princesa Asteca entre os Incas (Draco, 2009).  O exemplar cobiçado passou de mãos em mãos sob o olhar vigilante, fulminante e ciumento da Ana Cris, eclipsando momentaneamente a atenção concedida à antologia.  A Saída de Emergência Brasil está disponibilizando gratuitamente a versão digital desse número zero da Bang! Brasil no link abaixo:

Ana Cris causa inveja com exemplar da Bang! Brasil # 0.



Conversei com Edu, Felipe e Jorge.  Entre os tópicos abordados, alguns de nossos velhos favoritos: ficção científica e história romana, sobretudo, influências culturais sofridas pelos pré-romanos dos gregos, fenícios e etruscos.  Falei-lhes brevemente dos materiais que ando estudando para escrever meu Vita Vinum Est! — História do Vinho do Mundo Romano.
Erick Sama apareceu afinal por volta das 18h00 e com ele materializou-se o mítico Cirilo Lemos, que, soubemos mais tarde, já se encontrava nas dependências da livraria, mas ainda não dera o ar de sua graça, talvez com receio de que o mordêssemos ou praticássemos perfídias ainda piores contra si.  Tanto quanto eu saiba, esta foi a primeira vez que Cirilo comparece a um evento literário, comprovando, portanto, sua existência física — bem, esta última afirmação é discutível, visto que vários presentes alegaram que a aparição era em verdade um ator contratado pela Draco para personificar o autor fabuloso da noveleta “Auto de Extermínio” (in Dieselpunk, Draco, 2011) e do conto “Robodisatva”(in Erótica Fantástica 1, Draco 2012).  Brincadeiras à parte, torço para que esta tenha sido a primeira de muitas ocasiões em que o Cirilo nos brinda com sua presença.

Cirilo Lemos e Erick Sama.


Saímos da Cultura Vitória por volta das 19h00 para bebemorar mais um lançamento bem-sucedido.  Após várias tratativas e negociações complexas, não obstante a distância, decidimos nos dirigir ao nosso reduto tradicional, o Estação Gourmet em Botafogo.  Apenas Ana Lúcia Merege não nos acompanhou na empreitada.  Seguimos de metrô numa expedição autopunitiva da Cinelândia até Botafogo.  Na curta caminhada a pé do Vitória até a estação da Cinelândia, Erick Sama me presenteou com um exemplar do fix-up de ficção alternativa recém-lançado Homens e Monstros — A Guerra Fria Vitoriana (Draco, 2013), do Flávio Medeiros, livro para o qual escrevi o prefácio em 2011 e que finalmente tenho o prazer de ver lançado.

Lançamentos draconianos: antologia Brasil Fantástico e fix-up Homens e Monstros.


Ao longo da viagem, em plena composição do metrô, Erick Sama me convidou para coordenar uma antologia de contos sobre dinossauros em companhia da jovem autora Alliah.  Como o tema me é caro, aceitei mesmo ignorante dos detalhes do projeto.
Uma vez no restaurante, resisti a duras penas, uma vez mais, à tentação insana de mergulhar de cabeça no delicioso rodízio de pizzas e correlatos do Estação Gourmet.  Para me compensar por este ato de bravura, Eduardo Torres pediu um tinto ribatejano em sua comanda e, mais tarde, retribuí à gentileza pedindo o Cinco Sentidos Malbec 2011 na minha.  Por consenso unânime dos enófilos de plantão — eu, Edu, Ana Cris e Erick Sama — o português foi considerado um tanto ácido, sobretudo para um vinho de safra 2008.  Talvez houvesse combinado melhor com uma carne gorda, do tipo cordeiro, javali ou outros que tais.  Com pizza ou carpaccio, no entanto, o argentino caiu melhor.  Como não podia deixar de ser, parte da conversa em nosso setor da mesa versou sobre questões enológicas e correlatas.
Vários convivas lamentaram a ausência de nosso bom amigo Max Mallmann, que anda um bocado sumido desde a conclusão de seu romance As Mil Mortes de César, continuação do aclamado Centésimo em Roma (Rocco, 2010).  Torçamos para que supere logo sua depressão pós-romance e regresse aos quadros egrégios de nossa confraria etílico-literária.
Por volta das 20h30, Erick Sama, Cirilo Lemos e Marcelo Jacinto Ribeiro orquestraram uma retirada estratégica sob alegações estapafúrdias diversas.  Eu e Luiz Felipe os acompanhamos até a Estação Botafogo, onde eles embarcaram para retornar às suas respectivas bases.
De volta ao restaurante, engrenamos em novos papos sobre ficção científica e outros bichos.  O assunto da antologia de contos de dinossauros voltou à baila e, com ele, as indefectíveis temáticas de viagens no tempo.  Eduardo Torres discorreu brilhantemente sobre as aventuras e desventuras retrotemporais do protagonista do romance Up the Line, de Robert Silverberg.  Também comentamos as noveletas clássicas de Robert A. Heinlein com temática temporal, “Pelos Cordões de suas Botas” e “All You Zombies”.
Por volta das 22h40 encerramos o certame.  Desta vez, ao que parece, não houve esticada em outro estabelecimento.
Jardim Botânico, Rio de Janeiro, 14 de setembro de 2013 (sábado).


Participantes:
Ana Cristina Rodrigues
Ana Lúcia Merege
Cirilo Lemos
Clinton Davisson
Eduardo Torres
Erick Sama
Estevão Ribeiro
Gerson Lodi-Ribeiro
Jorge Pereira
Luiz Felipe Vasques
Marcelo Jacinto Ribeiro
Nilton Braga
Ricardo França

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